05 março 2008

And the winner is.... REGGIO EMILIA


Durante a 2.ª Grande Guerra Mundial muitas escolas foram destruídas com os bombardeamentos, a população de Villa Cella, localidade próxima a Reggio Emilia, decidiu unir-se criou uma escola para as crianças da localidade. Essa escola era gerida pelos pais e por outros elementos da comunidade. Rapidamente foram surgindo escolas deste género por toda a região, sempre com a colaboração das crianças, pais e comunidade, sendo esta uma característica muito própria do modelo Reggio Emilia. Podendo ser considerada como um movimento cooperativo.

Na década de 60 do século XX Loris Malaguzzi torna-se um dos principais mentores do Reggio Emilia. Segundo Carlina Rinaldi, Loris Malaguzzi, líder pedagógico de R.E., foi uma figura ecléctica – professor, pedagogo, homem do teatro, jornalista, poeta e visionário – porque considerou que se devia investir na escola para o desenvolvimento do futuro.

Reggio Emilia perspectiva a criança como um competente e activo construtor de conhecimentos. Tal como Piaget, o modelo Reggio Emilia considera que a criança tem um papel activo na construção do seu conhecimento do mundo, uma vez que ela é capaz de construir autonomamente significador através da experiencia diária da vida quotidiana. (Lino, 2007: 100).

Um dos aspectos mais característicos deste modelo é a solicitação de múltiplos pontos de vista, indo ao encontro da teoria das inteligências múltiplas de Gardner.Segundo Gardner, todos os indivíduos normais são capazes de actuar em pelo menos sete diferentes e independentes áreas intelectuais (linguística, musical, lógico-matemático, espacial, cinestésica, intrapessoal e interpessoal). Sugere também que não existem habilidade gerais, dúvida da possibilidade de se medir a inteligência através de testes de papel e lápis e dá grande importância a diferentes actuações valorizadas em culturas diversas. Define inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos num ou mais ambientes culturais (Gama, 1998)

O modelo Reggio Emilia tem como objectivo proporcionar condições de ensino/aprendizagem através de trocas recíprocas num ambiente agradável e familiar, baseando-se a educação de infância em relações, interacções e cooperações. A escola tem de ser vista como o local onde as relações entre crianças e adultos se estabelecem, onde há partilha de experiencias, todos estão envolvidos no processo educativo.

A criança é vista como a representação da realidade que a rodeia, possui conhecimentos do mundo físico e social, é levada a experimentar múltiplas formas de expressão, é incentivada a colocar questões, procurar soluções e fazer múltiplas escolhas. O trabalho realizado pela criança deverá ser valorizado pelos adultos.

As crianças são seguidas pelos educadores, na creche e o jardim de infância, a fim destas se sentirem seguras e estáveis, fortalecendo as relações entre crianças-pais-educadores.
Como já referido, os pais e a comunidade envolvem-se na vida escolar. O órgão máximo decisório da escola, “La Consulta” (conselho de administração), reúne pais, educadores e representantes da comunidade, que avaliam, reflectem, decidem problemas e propostas. Através de reuniões (individuais ou em grupo), encontros, workshops, festas e celebrações promove-se o envolvimento dos pais e da comunidade. É através deste envolvimento que se promove a troca de saberes, ideias, conhecimentos e experiencias entre os adultos – pais e educadores. Os pais espelham o papel da comunidade, estes participam em discussões sobre a política escolar, desenvolvimento infantil, currículo, planificações e avaliações.


Este modelo promove a educação pela arte, destacando a importância desta área e promovendo experiencias artísticas, já que considera a criança como ser activo e criativo. Segundo Loris Malaguzzi a criança possui “cem linguagens”, para além da fala a criança possui símbolos e códigos que utiliza para se expressa. A criança deve ser estimulada de forma a dar respostas às suas necessidades, interesses e capacidades. É com o atelierista (adulto profissional da área das artes) que a criança aprende a utilizar as “cem linguagens”: palavras, movimento, desenho, pintura, modelagem, colagem, jogo dramático, música, etc.

O educador possui um papel muito específico, não de facilitador de aprendizagens mas sim de desafiador. Pode ser considerado um recurso, porque ele empresta experiências às crianças. Neste modelo os educadores são também vistos como alunos/aprendizes. É um ouvinte, um observador, um colaborador, podendo ser caracterizado como um professor-investigador.

Existe um outro “educador”, o espaço é visto como tal. A organização e a estética dos espaços são cruciais neste modelo, sendo consideradas parte importante do respeito pela criança e pela aprendizagem feita a partir dos espaços. Todo o trabalho elaborado pela criança deverá ser exposto quer na sala quer nas áreas comuns. O espaço comum da escola denomina-se “piazza” (praça: lugar comum, público; centro), neste local as crianças encontrarão materiais de disfarce, que lhes permite trabalhar a expressão dramática. As salas possuem janelas largas para entrada de luz, rasgadas para a comunidade. A nível do restante espaço, existem salas de actividades, com materiais de motricidade, jogo simbólico, música… Junto de cada sala existe um mini-atelier.

A nível do tempo, neste modelo os horários são organizados de modo a atender às necessidades das famílias. O tempo está organizado de forma a promover a interacção da criança, de modo que esta possa brincar sozinha, em pequenos ou grandes grupos. As crianças partilham tarefas do dia-a-dia, como: por a mesa para as refeições, tratar das plantas e dos animais, limpar os materiais do atelier.

Os projectos realizados são baseados nos interesses expressados ou observados. Os educadores orientam as crianças nas decisões sobre os seus trabalhos, o modo como irão investigar o tema a abordar. Os projectos dividem-se em três fases: 1ª – “explosão verbal”; 2.ª – “pensamento criativo e elaboração”; 3.ª – Revisão de trabalhos e avaliação. Exposição.

É fundamental documentar e exibir o trabalho que as crianças elaboram, para que estas se expressem, reexaminem o que foi feito, construam ou reconstruam novos conhecimentos, que lhes surjam ideias ou que ganhem novos entendimentos. Ao documentar os trabalhos das crianças obtêm-se uma ferramenta importante no processo de aprendizagem das crianças, dos educadores e dos professores: a avaliação. Ao longo de todos os projectos devem ser feitos registos fotográficos para enriquecer a documentação.

Os projectos são considerados projectos a longo prazo, para a sua elaboração são necessárias decisões, assentes em discussões, conversas, debates e partilha de ideias, capacidades essas fundamentais para a vida futura da criança.


Fontes:
- GAMA, Maria Clara (1998) A Teoria das Inteligências Múltiplas e suas implicações para Educação, acedido em 11 de Janeiro de 2008, em: http://www.homemdemello.com.br/psicologia/intelmult.html
- LINO, Dalila (2007) O Modelo Pedagógico de Reggio Emilia in FORMOSINHO, Júlia (org.) (2007) Modelos Curriculares para a Educação de Infância – Construindo uma praxis de participação, 3.ª edição. Porto: Porto Editora
- & SERRA, Célia (2004) Currículo na Educação Pré-Escolar e Articulação Curricular com o 1.º ciclo de Ensino Básico. Porto: Porto Editora
- SOUSA, Alberto B. (2003) Educação pelas artes e Arte na educação. Lisboa: Instituo Piaget

3 comentários:

FilipaCarvalho disse...

Atrevo-me a comentar o meu próprio post... Acabo de partilhar um bocadinho do trabalho realizado para OIE III, mais propriamente de parte do Memorando sobre Reggio Emillia.

Faço um apelo para o vosso sentido de partilha e... seguindo este exemplo e o exemplo da J.P.... Partilhem connosco as vossas "obras".

*Filipa

Menina Lua disse...

Um bocadinho muito breve da minha reflexão crítica e pessoal, incluído no meu Memorando sobre Reggio Emilia...

« Começo, então, por referir que o facto deste Modelo Curricular usar a Arte, para estimular e desenvolver a criança e as suas competências, é algo de original e produtivo: acho que as crianças se sentem sempre cativadas por diversas áreas relacionadas com a Arte, desde a pintura, à música e ao desenho, tornando-se, assim, nas formas mais eficazes de permitir que a criança expresse os seus sentimentos, as suas dúvidas, os seus interesses, as suas vontades. Além disso, “numa idade em que as crianças se servem muitas vezes do imaginário para superar lacunas de compreensão do real” (OCEPE, 2002: 56), as expressões das artes são sempre meios que a criança possui para explorar e descobrir as respostas às suas dúvidas e questões, relativamente ao meio e ao mundo que a rodeia. A Arte e os seus domínios são, também, uma maneira que permite que a criança vá “dominando e utilizando o seu corpo e contactando com diferentes materiais que poderá explorar, manipular e transformar de forma a tomar consciência de si próprio na relação com os objectos” (OCEPE, 2002: 57).
Outra característica do Reggio Emilia é a organização do espaço e dos materiais, que se torna diferente do que eu sabia existir, até hoje. Por outro lado, como referi anteriormente, este factor é tão relevante, neste processo, que se torna no 3º Educador da acção educativa. “Os espaços de educação pré-escolar podem ser diversos, mas o tipo de equipamento, os materiais existentes e a forma como estão dispostos condicionam, em grande medida, o que as crianças podem fazer e aprender.” (OCEPE, 2002: 37) O espaço central, Piazza, que cada sala deve possuir, torna-se num lugar onde as crianças podem explorar a sua imaginação, vestir a pele de outros personagens, libertar os seus interesses e demonstrar as suas vontades, transformando as suas brincadeiras nas suas reais formas de pensar, mesmo sem se aperceber. As salas que se encontram à volta do Piazza, possuem materiais importantes à estimulação e consequente desenvolvimento das competências da criança, principalmente relativas à motricidade, ao pensamento e à imaginação. Os materiais devem ser acessíveis e adequados a todas as crianças e, no caso de Reggio Emilia, uma vez que o processo se desenrola através da exploração e expressão das artes, os materiais, as suas características, a sua qualidade e a sua organização devem estar de forma a facilitar a sua manipulação pelas crianças. Também com esta importância e relevância, para todo o processo deste Modelo Curricular, sendo outra característica particular do mesmo, é a existência do mini-atelier, com materiais acessíveis a todas as crianças. »

OIE3 - Admin disse...

Sem "cerimónias" devo dizer: GRANDE contributo!!!

Vamos a isto...

SÓ + 1!
SÓ + 1!
SÓ + 1!
...

Qual é o modelo curricular que considera mais interessante?